O estudo Climate Change 2021: the Physical Science Basis, do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), publicado em agosto de 2021, reforçou a urgência de a população mundial se mover para minimizar os danos causados pelos gases de efeito estufa. O relatório prevê que, nas próximas décadas, as mudanças no clima impactarão com mais força todas as regiões do globo Terrestre, provocando ondas de calor crescentes, estações quentes mais longas e estações frias mais curtas. Isso quando tivermos 1,5°C acima da média histórica. Se chegarmos a + 2°C, as temperaturas extremamente altas atingiriam limiares críticos de tolerância para a agricultura e para a saúde humana e animal.
Esse cenário amplia a discussão sobre o papel da tecnologia na busca incessante por sustentabilidade. E na agricultura, ela se tornou ainda mais essencial, visto que temos uma área cultivável restrita, recursos naturais finitos e uma alta demanda por alimentos, fibras e biocombustível. Basicamente, produzir mais com menos... menos espaço e menos recursos.
A agricultura de precisão vem trabalhando esse ponto desde a década de 1920, evoluindo a tecnologia aplicada cada vez mais com o passar do tempo. De ferramentas eletrônicas embarcadas no maquinário e sistemas de informação geográfica a dispositivos inteligentes - IoT -, a grande novidade para o setor agora é o uso de drones em diversas atividades no campo.
Os drones realizam atividades semelhantes a algumas aeronaves (pulverização aérea, por exemplo) e satélites (imageamento), mas com maior agilidade no envio de informações. Em algumas situações, é possível o agricultor ter acesso em tempo real ao número de plantas, área de plantio ou mesmo sanidade da lavoura.
Drones agrícolas no Brasil
O agronegócio encabeça a lista dos setores que mais usam a ferramenta no Brasil, seguido por infraestrutura e segurança. Atualmente, são mais de 2 mil drones agrícolas cadastrados no Sistema de Aeronaves Não Tripuladas (Sisant), mantido pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Número que deve saltar para 93 mil até 2026, segundo projeção do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag). As principais aplicações na área são para realizar a pulverização das lavouras, monitorar desmatamento, achar nascentes de água e focos de incêndio e, principalmente, acompanhar e fazer a gestão agronômica da safra.
Nesta última aplicação, os drones são utilizados para identificar, com exatidão, áreas onde daninhas, pragas e doenças estão prejudicando a cultura, falhas de plantio, excesso de irrigação, entre outras anomalias no campo. Com essas informações precisas, o agricultor se torna capaz de direcionar a resposta apenas para a área necessária, reduzindo o uso de produtos químicos, bem como o impacto ambiental.
Soluções digitais como o xarvio FIELD MANAGER, por exemplo, mostram resultados expressivos nesse sentido. O Mapeamento Digital Inteligente da plataforma gera mapas com aplicações agronômicas que resultam em economias nas mais diversas atividades da safra: em média 61% no manejo de plantas daninhas (algodão e soja), 25% na aplicação de regulador de crescimento em taxa variável (algodão) e 30% na dessecação/desfolha em taxa variável na pré-colheita (soja, trigo e algodão). Além disso, o uso dos mapas para aplicação de regulador de crescimento e dessecação/desfolha na pré-colheita têm a vantagem de converter em uma maior homogeneização da lavoura e, consequentemente, maior produtividade.
O que diz a legislação brasileira
O uso de drones na agricultura já foi regulamentado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) por meio da Portaria Nº 298, de 22 de setembro de 2021. De acordo com o texto, as regras são para operação destinadas à aplicação de agroquímicos, adjuvantes, fertilizantes, inoculantes, corretivos e sementes. Em função disso, o uso de drone em atividades agrícolas deve ser registrado no MAPA, o operador ser qualificado em um curso para aplicação aeroagrícola remota e as aeronaves estarem em situação regular junto à ANAC.
Além disso, o operador deverá manter registro, em meio físico ou digital, dos dados relativos a cada aplicação – para fins de fiscalização, sob pena de responsabilização –, com as seguintes informações:
· data e hora de início e data e hora de término da aplicação;
· coordenadas geográficas da área aplicada;
· cultura a ser tratada;
· área tratada em hectare(s);
· tipo de atividade (aplicação de agroquímico, de fertilizante, de inoculante, de corretivo, semeadura e outros);
· marca comercial, volume e dosagem aplicada;
· altura do voo;
· dados meteorológicos (temperatura, umidade relativa do ar, direção e velocidade do vento durante a aplicação);
· aeronave utilizada (identificação da ARP conforme ANAC); e
· tipo/modelo de ponta de pulverização utilizada.
Outro ponto importante da portaria, é que não é permitida a aplicação em áreas que estejam uma distância mínima de 20 metros de povoações, cidades, vilas, bairros, moradias isoladas, agrupamentos de animais, mananciais de captação de água para abastecimento da população, inclusive reservas legais e áreas de preservação permanente e outras áreas ambientais com larguras mínimas de proteção estabelecidas em legislação específica.
Também é bom ficar atento de que os drones de ‘voo autônomo’ não têm previsão para serem regulamentados pela legislação brasileira.
O que esperar para um futuro próximo?
Drone é o nome popular da Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) de caráter não recreativo. É uma subcategoria do Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT), outro termo utilizado para se referir à ferramenta. E devido às suas funcionalidades e fácil acesso por boa parte da população brasileira, estão sendo amplamente usados nas mais diversas áreas e para diferentes aplicações.
Já pontuamos usabilidades diversas na agricultura. Contudo, startups e grande empresas desenvolvem essa tecnologia constantemente. Apesar de ainda não ser comum aqui no Brasil, algumas delas certamente podem colaborar com o sucesso da agricultura nacional se forem adequadamente aplicadas.
Esse experimento foi realizado nos Emirados Árabes, no ano passado, para conter o calor que beirava 50°C. Segundo a meteorologista e pesquisadora Keri Nicoll, a intenção foi tornar as gotículas dentro das nuvens grandes o suficiente para que, quando caíssem da nuvem, sobrevivessem até a superfície. Para isso, ela e sua equipe construíram quatro drones com envergadura de cerca de 6½ pés e capacidade de voo de 40 minutos, que foram lançados de uma catapulta. Durante o voo, os sensores mediram temperatura, umidade e carga elétrica dentro da nuvem, permitindo que soubessem quando e onde disparar os pulsos elétricos.
Para finalizar
Os dados gerados a partir das imagens captadas pelo drone são um dos trunfos mais poderosos para o agricultor tomar decisões de maneira mais assertiva, baseadas em fatos e não em suposições. Depois de coletadas, essas imagens são inseridas em um software para processamento e trazem insights como o melhor momento para fazer alguma atividade de manejo, estimar produtividade e até indicar a solução de problemas em cada talhão.
Entender os benefícios e os potenciais de uso dessa tecnologia irá transformar a passos largos a relação do agricultor com o monitoramento e o manejo da sua lavoura nos próximos anos. A facilidade de uso, a economia de combustível e a eficiência nos diagnósticos promete trazer a ferramenta ao dia a dia de cada vez mais agricultores brasileiros na busca por uma agricultura mais rentável, sustentável e competitiva.